Eutopia. Revista de Desarrollo
Económico Territorial N.° 19, junio
2021, pp. 119-135
ISSN 13905708/e-ISSN 26028239
DOI: 10.17141/eutopia.19.2021.4897
Permanência
da juventude no meio rural: para além da sucessão geracional tradicional
Permanence of youth in rural environment: beyond traditional generational succession
Permanencia de la
juventud en el entorno rural: más allá de la sucesión generacional tradicional
Mariele Boscardin.
Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM). marieleboscardin@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0002-3308-4189
Rosani Marisa Spanevello. Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM). rspanevello@yahoo.com.br
https://orcid.org/0000-0002-4278-6895
Adriano Lago.
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). adrianolago@yahoo.com.br
https://orcid.org/0000-0002-0499-102X
Luana Cristina Duarte.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). luanacrisduarte@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0001-5180-1471
Sandro Da Luz. Moreira
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). sandromoreira_rs@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0003-0743-1340
Recibido: 02/04/2021 - Aceptado: 28/05/2021
Publicado: 30/06/2021
Cómo citar este artículo: Boscardin, Mariele,
Rosani Marisa Spanevello, Adriano
Lago, Luana Cristina Duarte y Sandro Da Luz Moreira. 2021. “Permanência da juventude no meio rural: para além da
sucessão geracional tradicional”. Eutopía.
Revista de Desarrollo Territorial 19. DOI 10.17141/eutopia.19.2021.4897
Resumo:A permanência dos jovens no meio rural tem se
apresentado de forma distinta ao modelo tradicional de sucessão geracional.
Este artigo tem o objetivo de avaliar as formas de permanência dos jovens no
meio rural hoje, com destaque para as diferenças quanto ao processo de sucessão
geracional tradicional. Foram analisadas 53 entrevistas em distintos municípios
da região noroeste do Rio Grande do Sul: Cruz Alta, Crissiumal,
São Martinho, Sede Nova, Coronel Bicaco, Redentora e
Campo Novo. A análise dos resultados apontou para quatro formas distintas de
permanência: 1) Residência em conjunto (mesma casa) na propriedade paterna com
atividades agrícolas e não agrícolas; 2) Residência separada (mas nas mesmas
propriedades dos pais) com atividades agrícolas nas propriedades paternas; 3)
Residência no meio urbano, com atividades agrícolas nas propriedades dos pais e
4) Residência na propriedade, junto com os pais e com atividades urbanas. Estas
quatro formas de permanência encontradas nos resultados sugerem que a sucessão
geracional tradicional tem dado espaço para outros arranjos com derivações que
incluem residir no rural ou no urbano, ter atividades relacionadas à
agricultura e pecuária ou mesclar com atividades não agrícolas, ter autonomia
no negócio familiar e na renda.
Palavras chaves: atividades agrícolas; atividades não
agrícolas; continuidade; jovens rurais; reprodução social.
Abstract:A permanence of young people
in the rural areas has been presented in a different way from the traditional
model of generational succession. This article aims to assess the ways in which
young people remain in rural areas today, with emphasis on the differences
regarding the traditional generational succession process. 53 interviews were analyzed in different municipalities in the northwest region of Rio Grande do Sul: Cruz Alta, Crissiumal,
São Martinho, Sede Nova, Coronel Bicaco, Redentora e
Campo Novo. The analysis of the results
pointed to four different forms of permanence: 1) Residence together (same
house) on the paternal property with agricultural and non-agricultural
activities; 2) Separate residence (but on the same property as the parents)
with agricultural activities on the paternal properties; 3) Residence in the
urban environment, with agricultural activities on the parents' properties and
4) Residence on the property, together with the parents and with urban
activities. These four forms of permanence found in the results suggest that
the traditional generational succession has given way to other arrangements
with ramifications that include residing in rural or urban areas, having
activities related to agriculture and livestock or mixing with non-agricultural
activities, having autonomy in the family business and income.
Keywords: agricultural activities; non-agricultural activities;
continuity; rural youth; social reproduction.
Resumen: La permanencia de los jóvenes en el medio
rural se ha presentado de manera diferente al modelo tradicional de sucesión
generacional. Este artículo tiene como objetivo evaluar las formas en que los
jóvenes permanecen en el medio rural en la actualidad, con énfasis en las
diferencias respecto al proceso tradicional de sucesión generacional. Se analizaron 53
entrevistas en diferentes municipios
de la región noroeste de Rio
Grande do Sul: Cruz Alta, Crissiumal, São Martinho,
Sede Nova, Coronel Bicaco, Redentora e Campo Novo. El análisis de los resultados señaló cuatro
formas distintas de permanencia: 1) residencia conjunta (misma casa) en la
propiedad paterna con actividades agrícolas y no agrícolas; 2) residencia
separada (pero en la misma propiedad que los padres) con actividades agrícolas
en las propiedades paternas; 3) residencia en el entorno urbano, con
actividades agrícolas en las propiedades de los padres y 4) residencia en la
propiedad, junto con los padres y con actividades urbanas. Estas cuatro formas de
permanencia encontradas en los resultados sugieren que la sucesión generacional
tradicional ha dado lugar a otros arreglos con derivaciones que incluyen
residir en áreas rurales o urbanas, tener actividades relacionadas con la
agricultura y ganadería o mezclarse con actividades no agrícolas, tener
autonomía en la empresa familiar y los ingresos.
Palabras clave: actividades agrícolas; actividades no agrícolas;
continuidad; juventud rural; producción social.
Notas introdutórias sobre a permanência dos
jovens frente ao rural
O rural brasileiro
tem sofrido diversas alterações sociais e econômicas nas últimas décadas, como
resultado das transformações demográficas, tecnológicas e produtivas. Trabalhos
pioneiros como o projeto Rurbano (com início em 1997) vêm mostrando a população
rural brasileira está cada vez mais vinculada a atividades não agrícolas. Kageyama (2008, 2000) mostra que, a partir de 1990, o rural
passou a não ser mais definido como o lugar do atraso e do espaço exclusivo da
produção agrícola, mas também um espaço multissetorial, sendo a agricultura uma
das atividades, agregando também a presença das atividades não agrícolas.[i]
Conforme é o processo de urbanização da cultura das regiões rurais, que por
extensão vai se tornando “rurbano” (Graziano da Silva 1999).
Para Scaramuzzi, Belleti e Biagioni
(2020), estas mudanças recentes do rural implicam em analisar o seu
desenvolvimento a partir de três dimensões: 1) aprofundamento (maior valor
agregado, o qual pode ser gerado por meio de mecanismos como produção de
qualidade diferenciada, processamentos nas propriedades rurais e circuitos
curtos); 2) alargamento (inclusão de novas atividades vinculadas à agricultura,
tais como produção de energia e prestação de serviços); 3) recondicionamento
(rearticulação nas relações das empresas com o seu contexto e outros atores do
espaço rural local, permitindo novas formas de criação de valor, como por
exemplo, rotas do vinho, diversificação e o desenvolvimento do agroturismo).
De acordo com os
dados do Censo Agropecuário (IBGE 2017), de modo geral, estas transformações
apontam para um rural com um perfil de produtores majoritariamente familiares
(mais de 70% dos produtores rurais brasileiros são familiares) e do sexo
masculino, produzindo sob 25% de área agrícola do país, com mão de obra da
família para realização do trabalho (embora nesta última década tenha perdido um contingente de 2,2 milhões de trabalhadores),
com distintos graus de tecnificação e acesso aos benefícios, em especial de
políticas públicas de custeio e investimento. Trata-se de um perfil de
agricultores mais envelhecidos em razão do êxodo juvenil. Outra questão
relativa ao campo produtivo e de geração de renda é o exercício das atividades
não agrícolas presentes nesta agricultura familiar, a qual inclui a prestação
de serviços e a transformação de matéria prima.
Conforme assegura
Wanderley (2000), a revalorização dos espaços rurais tem enfatizado o rural
como modo de vida[ii] e
produtor de alimentos, com destaque para os agricultores familiares. Ademais,
também se tem discutido a questão da produção sustentável (Slätmo et
al. 2017), mercado de terras (Borras e Franco 2012), as mudanças
climáticas (Chechi e Grisa 2020) e a reprodução
social das propriedades rurais (Moreira et
al. 2020) como temas relevantes no espaço rural na atualidade.
No referente ao campo
sociodemográfico, em especial, a reprodução social das propriedades rurais, as
transformações no novo rural tem apontado para um cenário que os clássicos
estudos de Abramovay et al. (1998)
e Silvestro
et al. (2001), realizados no Brasil há quase duas décadas, já traziam:
as dificuldades dos jovens, filhos de agricultores, em permanecer nas
propriedades e no rural. Segundo estes trabalhos, a falta de sucessão nas
propriedades rurais se deve em razão da desistência dos filhos da ocupação
paterna, rompendo com a lógica que todo filho de agricultor seria agricultor ou
disposto a ser o sucessor geracional. Entende-se por modelo sucessório
tradicional quando o sucessor recebe a propriedade paterna, ou pelo menos parte
desta, como herança, reside na propriedade paterna desenvolvendo as atividades
produtivas e assume a responsabilidade de amparar os pais na velhice,
promovendo assim a renovação das propriedades rurais entre as gerações (Boscardin e Conterato 2017).
A partir destes
estudos clássicos, outros trabalhos avançaram no sentido de apontar os fatores
motivacionais da continuidade ou saída dos jovens das propriedades e do rural e
concluíram que essa permanência e até mesmo a sucessão geracional são
dependentes de diversos fatores. O trabalho de Moreira et al. (2020) aponta que a sucessão
geracional perde o caráter de acontecimento natural
como era nas gerações passadas quando os filhos permaneciam na propriedade por
obrigação moral, pelo amor a terra e para manter a coletividade da família e a
reprodução do patrimônio ao longo das gerações. Hoje, os pais demonstram que é
preciso motivar a sucessão entre os filhos (Moreira et al. 2020, Moraes et al. 2017). Os estudos de Spanevello
(2008), Matte e Machado (2016), Foguesatto, et al. (2020) e Bertolozzi-Caredioa
et al. (2020) mostram que os fatores principais capazes de motivar os
jovens a ficarem na propriedade paterna, estabelecendo o processo de sucessão
geracional ou mesmo permanecendo no campo, realizando atividades não agrícolas
são: ter renda própria, autonomia na gestão dos processos produtivos, realizar
um trabalho menos penoso que o agrícola, que sofre com as instabilidades
climáticas e requer trabalho no final de semana. Além de outros fatores, como
condição produtiva e tecnológica da propriedade, acesso ao lazer e a comunicação
no meio rural, crédito para instalação do jovem como agricultor, entre outros (Cavicchioli et al. 2018; Wheeler et
al. 2012; Mishra e
El- Osta 2008; Aldanondo Ochoa
et al. 2007).
Outros trabalhos
foram além, buscando explicar os efeitos sobre a sucessão geracional das
propriedades no encaminhamento do patrimônio e herança (Boscardin
e Conterato 2017; Sottomayor
et al. 2011): a velhice no meio rural (Lobley et al.
2010), a masculinização no campo (Grubbström
et al. 2014; Mann 2007), a dinâmica do mercado de terras (Glauben
et al. 2009), entre outros. Na perspectiva de Caredio
et al. (2020), a sucessão carrega três variáveis junto dela: potencialidade,
vontade e eficácia. A potencialidade está atrelada aos filhos serem
reconhecidos pela família como possíveis sucessores, a vontade representa a
perspectiva do filho em continuar trabalhando na propriedade e a eficácia é
fazer o processo de sucessão na propriedade.
Considerando
especificamente a questão juvenil e a sua reprodução social dentro do contexto
do novo rural, Butler (2020), em estudo realizado na Austrália, evidencia novas
relações de trabalho entre os jovens rurais e desejos de mobilidade. Para a
autora, as comunidades rurais estão passando por transformações socioculturais
significativas, onde as relações de trabalho são reestruturadas. A autora
comenta ainda que, os jovens estão na vanguarda dessas mudanças, construindo
caminhos e relacionamentos para si e suas famílias (Butler 2020).
Neste sentido, é possível
verificar entre os jovens o maior acesso ao estudo, seja em cursos técnicos ou
superiores, acesso aos bens de consumo e comunicação (em especial internet)
semelhante à população urbana e novas oportunidades de renda através do
empreendedorismo. Outro aspecto marcante é o comportamento populacional com
destaque para as mudanças na família rural, tendendo a reduzir o número de
filhos. No contexto geral, outras mudanças são particularmente marcantes e
afetam a transição demográfica da juventude rural, conforme argumenta Neves e
Schneider (2015). Entre elas, pode-se apontar: a) migração juvenil, em especial
a juvenil feminina fortemente associada à impossibilidade de viver da atividade
agropecuária; b) o crescente envelhecimento populacional rural considerado um
problema social devido à migração juvenil, relacionado à falta de perspectivas
de sucessão geracional nas propriedades rurais (Maia 2014).
Por outro lado, pode-se
afirmar que estas mudanças sociais, produtivas e tecnológicas, não servem
apenas para levar os jovens, futuros agricultores, para o meio urbano. De
acordo com o trabalho de Signor (2019), entre jovens
estudantes de Cursos Superiores ligados ao Agronegócio, há uma tendência do
retorno às propriedades e ao rural para empreender novos negócios (entre os
quais são citadas as atividades não agrícolas) ou melhorar aqueles já existentes
nas propriedades através do controle de custos, estudos de mercado, agregação
ambiental, apelo cultural e de origem, entre outros. Nestes casos, o local de
moradia e trabalho são as propriedades rurais e o rural.
Estas possibilidades atuais
demandadas pelos jovens, filhos de agricultores, sinalizam para o que Milone e Ventura (2019) denominam de “nova geração de
agricultores” em estudo realizado na Itália. Trata-se de jovens atraídos pelo
setor agrícola, tendo em suas concepções a ideia de que este setor oferece a oportunidade
de se tornar empreendedor. Suas ideias não vão ao
encontro dos modelos convencionais de praticar a agricultura. São jovens que
estão conseguindo administrar propriedades rurais, geralmente muito pequenas. O
sucesso se dá pela criatividade, inovação e capacidade de resposta às novas
demandas e expectativas da sociedade (Milone e Ventura
2019).
Garnevska et
al. (2020), ao estudar propriedades hortícolas na região da Bulgária, avaliaram
cinco opções estratégicas para os agricultores que queriam continuar com seus
negócios de horticultura, sendo eles: 1) fazer o que você faz atualmente, porém
melhor; 2) desenvolvimento de novos produtos hortícolas; 3) desenvolvimento de
novos mercados; 4) desenvolvimento de novas atividades agrícolas; e 5)
desenvolvimento de novas atividades não agrícolas. No estudo, os autores
constataram que a estratégia 1 foi considerada viável pela maioria (mais de
75%) dos produtores, independentemente do tamanho de suas propriedades. Os
entrevistados pretendiam manter seus produtos e mercados existentes, mas
produzir com melhor qualidade ou aumentar a área de suas safras lucrativas
atuais (Garnevska et al. 2020).
A estratégia
“desenvolver novos produtos hortícolas” foi destacada por quase metade dos
entrevistados (49%), os quais perceberam a opção como viável. Já a estratégia 3,
“desenvolver novos mercados”, foi vista como viável para 44% dos entrevistados.
Durante a pesquisa, os autores constataram que os entrevistados não estavam
muito familiarizados com as questões relacionadas à diversificação produtiva.
Em relação à estratégia 4, “desenvolver novas atividades agrícolas”, cerca de
um terço dos entrevistados, independentemente do tamanho da propriedade,
considerou a opção, viável para seus negócios a médio prazo. A estratégia 5,
“desenvolver novas atividades não agrícolas”, não era uma direção estratégica
popular para os agricultores entrevistados, visto que somente cerca de 29%
deles eram mais inovadores e apoiavam a realização destas atividades como a
instalação de uma pequena vinícola ou unidade de processamento agroalimentar (Garnevska et al. 2020).
No tocante aos
filhos, ficar e suceder podem ser compreendidos de distintas formas. Conforme o
trabalho de Duarte et al. (2021),
a permanência dos jovens reflete diferentes configurações. Há casos em que os
jovens ficam no rural (mas não na propriedade) desenvolvendo negócios agrícolas
e não agrícolas, os jovens que residem no meio urbano e mantém a propriedade (e
a terra) como um bem econômico e os jovens que assumem os negócios dos pais nas
propriedades fazendo mudanças, tais como, acréscimo de novas atividades e de
infraestrutura. Nestes casos, como mostra Moreira e Spanevello
(2019), hoje, essa permanência implica em uma série de arranjos. Segundo o
estudo dos autores, arranjos distintos foram encontrados a partir da variação
do local de moradia do sucessor, administração do negócio e gerenciamento da
renda. No trabalho de Moreira (2018), embora a grande maioria dos sucessores desenvolva
apenas trabalhos agrícolas e de pecuária, registra-se um percentual que
trabalha na propriedade do pai e presta serviços em outras propriedades ou tem outro
trabalho ou profissão, com destaque para assistência agronômica, professor,
caminhoneiro e estudantes. Em suma, os resultados destes trabalhos revelam que
os encaminhamentos ou arranjos sucessórios relatados pelos entrevistados
apresentam distintas características, não tendo na sucessão geracional
tradicional o único modelo.
Conforme Spanevello (2008), a sucessão é um processo que combina
vários elementos, os quais vão desde as particularidades individuais das
famílias e dos filhos associada às condições geográficas e temporais, bem como
as condições produtivas das propriedades.
Por isso, para Moreira (2018, 142), “a sucessão hoje não é mais ‘acontecimento
natural’ como era nas gerações passadas, quando os filhos ficavam por obrigação
moral, pelo amor a terra e para manter a coletividade da família e a reprodução
do patrimônio ao longo das gerações”. Brandth e Overrein (2012) também confirmam que as crianças nascidas
no meio rural, nas gerações passadas, não consideravam outra opção além de
trabalharem como agricultores. A sucessão geracional das propriedades era dada
como certa.
A partir das
abordagens sobre presença das atividades não agrícolas e da revalorização dos
espaços rurais, a questão sobre a permanência dos jovens ali atinge outros
significados. Estes novos significados passam por compreender que um
contingente populacional juvenil almeja permanecer no rural ainda que não necessariamente
como agricultores ou sucessores dos seus pais no mesmo ramo de negócios. Neste cenário
de novos negócios, as formas de gerar renda e viver no rural também tendem a
ser novas. Considerando esse foco de análise, este artigo tem como objetivo analisar,
dentro de um cenário de distintos municípios do Rio Grande do Sul, as formas de
permanência (suas características e nuances) dos jovens no meio rural da
atualidade.
Metodologia
Este artigo é classificado como um estudo de caso com dados coletados no
estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Os dados aqui apresentados abrangem um
total de 86 propriedades rurais, localizadas em distintos municípios do estado
do Rio Grande do Sul, sendo eles: Cruz Alta, Crissiumal,
São Martinho, Sede Nova, Coronel Bicaco, Redentora e
Campo Novo, os quais estão inseridos geograficamente na Mesorregião Noroeste Rio
Grandense, conforme figura 1:
Figura 1. Localização geográfica da Mesorregião Noroeste
Rio Grandense
Fonte: Suporte Geográfico (s/d).
Os dados foram
coletados entre 2018 e 2019 em momentos distintos, tendo em vista que aqueles
utilizados neste artigo fazem parte de três pesquisas de campo com o objetivo
discutir a sucessão geracional dos
jovens no meio rural. Foram entrevistados jovens, filhos de agricultores, de
faixas etárias entre 17 e 30 anos, já definidos como sucessores (condição em
que os pais já cederam espaço para que os filhos conduzam as atividades e a
gestão dos negócios) das propriedades paternas ou encaminhados para tal função
(situação em que as propriedades já escolheram o filho que vai assumir os
negócios e o patrimônio, sem ainda o mesmo estar executando tal função de forma
individual, mas em conjunto com os pais).
A primeira pesquisa foi
realizada no município de Cruz Alta em 2018. A maioria dos sucessores do
Município de Cruz Alta é do sexo masculino, ou seja, apenas um dos filhos como
sucessor, em grande parte o primogênito. Os sucessores estão na faixa etária
dos 25 anos ou mais e a grande maioria é casada. Quanto ao grau de escolaridade,
metade tem nível médio e a outra tem nível superior (Agronomia, Veterinária e
Administração).
A segunda pesquisa
ocorreu no município de Crissiumal, também em 2018, no
qual foram entrevistados 26 jovens que desenvolvem atividades não agrícolas,
podendo estar associadas a atividades agrícolas, com idades entre 17 e 30 anos.
Destes 26 entrevistados, nove são do sexo feminino (34,62%) e 17 do sexo
masculino (65,38%), sendo a grande maioria solteiro, (69,2%). Em relação à
escolaridade, 80,71% dos jovens variam entre ensino médio, técnico e superior, ensino
médio incompleto ao superior completo.
A terceira pesquisa
foi realizada nos municípios de São Martinho, Sede Nova, Coronel Bicaco, Redentora e Campo Novo em 2019. Foram realizadas 29
entrevistas. A maioria era do sexo masculino, casado, com escolaridade variada,
predominando o ensino médio completo.
As três pesquisas
utilizaram roteiro de entrevistas semiestruturadas, uma vez que esse
instrumento permite obter informações qualitativas em profundidade, abarcando
distintas propriedades em termos de tamanho, sistemas produtivos e locais de
residência dos gestores. Ademais, o número de entrevistados em cada pesquisa e
em cada município, deve-se ao fato da amostra ser por conveniência.
O procedimento utilizado para o estudo dos dados foi a análise de conteúdo, uma
vez que dispomos de narrações dos participantes. Acredita-se ser o procedimento
mais adequado para responder o objetivo proposto neste artigo. No conjunto, das
86 entrevistas realizadas, foram selecionadas apenas as que apresentam novas
formas de permanecer no meio rural para além das características da sucessão
geracional tradicional. Para este artigo foram 53 entrevistas incluídas na
análise.
Formas de permanência no meio rural
Os resultados apontam as diferentes formas de permanência no rural e nas
propriedades, segundo os entrevistados. Conforme o quadro 1, são quatro formas
elencadas que variam entre ficar na propriedade, residir no rural ou no urbano,
ter atividades relacionadas à agricultura e pecuária ou mesclar com atividades
não agrícolas, ter autonomia no negócio familiar e na renda.
Quadro 1. Formas de permanência dos jovens na
propriedade e no rural
Fonte: Os
autores (2021).
Estas formas de permanência são os resultados das distintas
características dos entrevistados, das estruturas familiares, das propriedades
e das oportunidades que cada uma pode oferecer aos jovens em termos de trabalho
e geração de renda, bem como o rural. A seguir, estão detalhadas cada uma das
quatro formas encontradas:
1) Residência
em conjunto (mesma casa) na propriedade paterna com atividades agrícolas e não
agrícolas
Este grupo é composto por 5,7% entrevistados apenas, onde as maiores
diferenças em relação aos demais grupos é justamente a inclusão de outra
atividade como geradora de renda na propriedade de cunho não agrícola. Conforme
Duarte et al. (2021), embora este cenário possa se assemelhar ao modelo
tradicional de sucessão geracional, é pertinente analisar que as diferenças que
os sucessores estão propondo gera o que a autora considera como ramificações da
sucessão geracional tradicional, ou seja, os jovens permanecem como sucessores
dos pais, mas modificam alguma característica produtiva.
Nestes casos analisados, os jovens pretendem reduzir ou aumentar as atividades
agrícolas realizadas atualmente na propriedade, ampliar a área comprando mais
terra ou implementando somente atividades não agrícolas como é o caso de
agroindústrias ou mesclando atividades agrícolas com a pluriatividade. É
importante salientar que a preferência pelas atividades não agrícolas está
centrada nas propriedades em que as filhas permanecem. É o caso, por exemplo, de
duas propriedades onde as filhas, as quais possuem curso superior em Administração
e Enologia, usam os conhecimentos destas áreas de formação para gerir novos
negócios nas propriedades.
Cabe salientar que estas “novas”
atividades (agroindústrias,
turismo rural, produção de alimentos orgânicos e agroecológicos) cativam
os jovens a ficar no meio rural, visto que a agricultura “tradicional” nos
moldes das antigas gerações tem sido um dos fatores de desistência dos jovens
em relação à permanência no rural. As atividades não agrícolas e, em destaque,
a pluriatividade, têm se mostrado uma excelente opção para incentivar a
população jovem a ficar no meio rural e ali se estabelecer, pois elas permitem
independência, garantia financeira e proximidade com a cidade (Panno e Machado 2014).
Duarte (2019) constata que as atividades não agrícolas são vistas como
positivas para a permanência dos jovens em razão de manter proximidade com a
propriedade, diversificação da renda, podem fazer o que gosta e ainda ter uma
renda só sua. As atividades não agrícolas geram renda maior do que as
atividades essencialmente agrícolas e são determinantes para o desenvolvimento
do meio rural (Silvestro et al. 2001).
Signor
(2019) defende que as atividades não agrícolas podem ser compreendidas sob o
olhar do empreendedorismo. Para o autor, tornar a juventude rural empreendedora
pode favorecer a permanência dos jovens no campo e assegurar a manutenção do
desenvolvimento rural. Segundo Signor (2019), 57% dos
jovens pesquisados no seu trabalho apresentam potencial agroempreendedor,
gostam do modo de vida rural, constantemente buscam conhecimentos sobre o
agronegócio e a área que estão cursando, tem boas e inovadoras ideias de
negócios. Este perfil agroempreendedor passa pelo
exercício das atividades não agrícolas, pela pluriatividade e pela
transformação de produtos, agregando valor econômico e social ao rural e ao
espaço de origem dos jovens.
2)
Residência separada (mas nas propriedades dos
pais) ou em propriedades próximas geograficamente, com atividades agrícolas nas
propriedades paternas
Este grupo representa um conjunto grande de entrevistados (37,7%) com o
diferencial atrelado à moradia separada, ou seja, esta forma de permanência dos
jovens consiste na sucessão das propriedades dos pais, porém morando
separadamente. Dentre os casos analisados, constataram-se jovens que residem na
mesma propriedade dos pais ou jovens que residem em propriedades próximas
geograficamente. Estas novas configurações, sugerem mudanças no modelo
sucessório tradicional em que o local de
trabalho também era o espaço da moradia, portanto, viver na mesma moradia
significa estar no mesmo âmbito doméstico, na mesma propriedade e nela trabalhar.
Estas alterações podem ser visualizadas comparando o
modo de vida das gerações passadas, tais como a formação de união estável (em
substituição aos casamentos), os casamentos mais tardios (com jovens em idade
mais avançada), o menor número de filhos (como resultado da redução das taxas
de fecundidade das mulheres rurais), as estruturas familiares mais reduzidas
(apenas uma geração sob o mesmo teto) como forma de garantir a individualização
dos casais mais jovens e os conflitos entre as gerações, entre outros (Maia e Buainain 2015).
Outra característica importante destes entrevistados é
a participação dos jovens nos negócios e na renda. Esta configuração difere da
sucessão geracional do passado, tendo em vista que os pais exerciam o que Silvestro et al. (2001) denomina de poder paterno, exercendo
o comando sobre o trabalho e a gestão da produção agropecuária e o controle
sobre a renda gerada, sem remuneração, aos demais membros da família, em
especial às mulheres e aos filhos. Para Moreira et al. (2020), garantir a independência da gestão dos negócios
para os filhos, seja de forma parcial ou total, é um pressuposto bem aceito
pelos filhos, pois os pais expressam confiança no trabalho dos
mesmos. Ainda, segundo o autor (2020), quando os pais atribuem uma
atividade independente dentro da propriedade para ser gerida pelos filhos ou
asseguram a divisão das responsabilidades sobre a totalidade dos negócios com
seus descendentes dentro da propriedade, os pais estão, sobretudo, “cativando”
o filho para o posto de sucessão. Moreira (2018) cita, por exemplo, os casos em
que os pais investem em uma nova atividade como, por exemplo, a produção
leiteira e atribuem aos jovens a responsabilidade sobre a
mesma. Esta decisão impacta nos filhos como uma relação de confiança e
crédito à capacidade gerencial dos sucessores. Por consequência, na decisão de
ficar e seguir na sucessão dos negócios e do patrimônio ou não.
No tocante à renda, a remuneração ou a renda individual
é vista como fundamental para a permanência dos jovens. Quanto à participação
no gerenciamento da renda, observa-se que os pais dividem os lucros com os
jovens ou até mesmo pagam salário. Nestes casos, os filhos recebem pelo
trabalho executado, apresentando autonomia no uso e destino da renda gerada na
propriedade, podendo destinar até mesmo para bens de consumo próprio.
3)
Residência no meio
urbano, com atividades agrícolas nas propriedades dos pais
Para os entrevistados deste grupo, metade deles (50,9%), esta nova
relação dos jovens com o rural se constitui numa forma de suceder a
propriedade, realizar as atividades agrícolas, porém tendo como local de
residência o meio urbano. Outros entrevistados, além de residir na cidade, possuem
atividades remuneradas no meio urbano, conciliando com as atividades agrícolas
(tais como empresa de revenda de pneus, cargo de professor universitário e
lojas de insumos agropecuários). Conforme Moreira et al. (2020), quando os
gestores não residem nas propriedades e nem no rural, pode-se dizer que é cada
vez mais evidente pensar que a sucessão geracional está atrelada, de forma
conceitual, na sucessão do negócio e não do viver na propriedade e no rural.
Neste grupo, a responsabilidade sobre os negócios ou sobre o
gerenciamento dos mesmos é dos jovens em duas
situações: a) quando estão à frente de uma atividade específica da propriedade,
ou seja, os jovens gerenciam atividades pontuais (como é o caso da atividade
leiteira); b) Ou ainda, quando gerenciam todas as atividades, como é o caso de
um dos entrevistados, o qual gerencia a produção de grãos de 100 hectares de
uma área doada pelo pai, bem como a renda gerada.
O
fato de os filhos residirem no meio urbano e desenvolverem atividades no meio
rural foi considerado por Boscardin e Conterato (2017) como uma estratégia elaborada por
agricultores diante dos filhos que não desejam o rural como local de residência.
Nestas situações, “explorar” economicamente a propriedade dos pais, em sistemas
produtivos, estes que não requerem cuidados mais intensos ou
diários, não significa que os filhos desejam ficar no meio rural, ou seja, esta
ação pode ser visualizada como um ingresso de renda a mais, tendo em vista que os mesmos já possuem rendas de atividades laborais desenvolvidas
no meio urbano (Boscardin e Conterato
2017).
Nesta
mesma perspectiva, Cassidy e Mcgrath (2014), em
estudo realizado na Irlanda, constataram que,
filhos de agricultores que não são ou dificilmente serão sucessores possuem um
apego profundo à propriedade dos pais, implicando no desejo de manter a
propriedade dentro da família e a continuidade entre as gerações. Manter a
propriedade diz respeito a um senso de responsabilidade de manter a
continuidade intergeracional de proteger o trabalho e o modo de vida dos pais.
Esses vínculos minimizam a possibilidade dos não sucessores verem a propriedade
como um ativo a ser potencialmente vendido (Cassidy e Mcgrath 2014).
Cabe
ainda destacar que esta forma de relação com o “novo rural”, em que não há
moradia, mas apenas o desenvolvimento de atividades agrícolas, emerge em
determinadas atividades, por exemplo com grãos, pois não requer cuidados e
rotina diária, como é o caso da atividade leiteira. Para as entidades ligadas
ao rural, como cooperativas, sindicatos e associações de agricultores, esta relação
continua sendo importante, pois há produção agrícola e formação de uma nova
geração de agricultores. No entanto, as relações sociais nas comunidades
rurais, igrejas, escolas, salão comunitários acabam sendo enfraquecidas como já
apontava Silvestro et al. (2001).
4)
Residência na
propriedade, junto com os pais e com atividades urbanas
Neste grupo, composto por 5,7% dos jovens, verifica-se que todos os
entrevistados exercem pluriatividade, sendo o jovem o membro pluriativo ou que exerce atividades remuneradas no meio
urbano. Em apenas um caso, toda a família trabalha fora da propriedade e do
rural.
Uma característica do “novo rural” refere-se ao rural apenas como
residência, tendo o meio urbano como local de realização de atividades
remuneradas. Para Wanderley (2000), esse novo cenário do meio rural brasileiro
possibilita reduzir o esvaziamento demográfico do rural, dado que o mesmo garantiu a permanência e manutenção de grande número
de pessoas. Para a autora, anteriormente a este período, pessoas que deixavam
as atividades agrícolas deixavam também o meio rural, recentemente boa parte da
população continua residindo no meio rural apesar de não realizar atividades
agrícolas (Wanderley 2000).
Neste sentido, pelas próprias características
do rural, visto como um local mais tranquilo para se residir, o mesmo se tornou atrativo para um significativo número de
pessoas, dentre eles, os jovens. Além disso, o “encurtamento” da distância
entre rural e urbano, dado pelo acesso a estradas, internet, telefone, televisão
por assinatura e transporte, possibilitou a emergência destas novas
características. Para Duarte et al.
(2021), esta condição nos remete a compreender a permanência dos jovens não
como um processo de sucessão geracional, mas como um processo de sucessão
rural, no qual ocorre o deslocamento diário para trabalhar em empregos urbanos,
reforçando a ideia do rural como moradia e não necessariamente como local de
trabalho e renda.
Considerações finais
As mudanças em curso, que ressignificam o rural, geram uma série de
impactos sobre essa população. No caso deste artigo, sugere-se que estas
mudanças no rural possam redefinir novas formas de permanência com
características distintas do modelo de sucessão geracional que por décadas
permeou a reprodução social da população rural.
A predominante sucessão geracional (sucessão da ocupação, da gestão, da
moradia e do patrimônio) abre espaço para outras formas de sucessão em que uma
ou mais destas condições pode não estar presente. Estas outras formas mostram
que as relações de moradia e/ou trabalho no rural e o apego à propriedade está
garantindo a sucessão rural.
A partir das entrevistas realizadas, verificou-se quatro formas de
permanência: 1) residência em conjunto (mesma casa) na propriedade paterna com
atividades agrícolas e não agrícolas; 2) residência separada (mas na mesma
propriedade dos pais) com atividades agrícolas na propriedade paterna; 3)
residência no meio urbano, com atividades agrícolas na propriedade dos pais e
4) Residência na propriedade, junto com os pais e com atividades urbanas.
De modo geral, as quatro formas de permanência identificadas sugerem
similaridade, pois todas têm em comum o rural como referência, seja como
moradia e trabalho, somente trabalho ou moradia. Ou seja, de maneira mais ou
menos intensa, o rural continua na vivência dos entrevistados. Outro aspecto
que se visualiza é o modelo de sucessão geracional tradicional, o qual não está
ultrapassado ou esquecido e que se faz presente, especialmente no caso em que
jovens vão permanecer na propriedade (mesmo com residência separada) e com a participação
nos negócios e na renda agrícola.
Outro grupo explicita preferência pelo rural como moradia e trabalho,
mas esse último está atrelado ao exercício das atividades não agrícolas,
configurando-se como alternativas de trabalho e renda frente à desistência das
atividades agrícolas, ou seja, a renda provém de outras fontes. Ainda, é
possível constatar entrevistados que residem no urbano, mas têm como geração de
renda as atividades agrícolas. Ou seja, suceder os negócios paternos, sem
residir na propriedade e no meio rural.
No entanto, é preciso argumentar que estas novas formas sucessórias carecem
de um maior número de estudos, pois aqui apresentamos uma análise de um
universo localizado no Rio Grande do Sul. De qualquer forma, estes meios de
permanência diferenciados sugerem pensar a reprodução social do meio rural a
partir das ações de desenvolvimento e políticas públicas que oportunizem estes
distintos projetos pessoais e profissionais dos jovens quanto a ficar no rural
e viver ou não a agricultura. Tendo em vista que o modelo “filho de agricultor”
não será mais necessariamente filho sucessor de seus pais nos negócios e no
patrimônio. Ademais, estudos voltados à diferenciação por sexo dos filhos
também contribuem para entender melhor esta temática do êxodo rural feminino.
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Notas
[i]
As atividades não agrícolas estão classificadas em atividades não agrícolas
propriamente ditas, pluriatividade e atividades para-agrícolas. Resumidamente,
as atividades não agrícolas são aquelas em que a pessoa possui uma atividade no
meio rural que não é a atividade agrícola. Neste contexto, se destaca a
prestação de serviço, em que muitas unidades produtivas contratam o serviço de
máquinas para desempenhar alguma função de fora da unidade produtiva (Laurenti 2000). De forma geral, atividades não agrícolas
são as que não se encaixam no significado de atividade agrícola ou
para-agrícola (Schneider 2009). As famílias pluriativas,
segundo Schneider (2009), são aquelas que desenvolvem vários tipos de
atividades e cujos membros desenvolvem atividades dentro e fora da propriedade,
combinando as agrícolas, as não agrícolas e as para-agrícolas. De acordo com
Schneider (2009), as atividades para-agrícolas são aquelas que resultam na
transformação, elaboração e processamento de matérias-primas agrícolas e seus
derivados, as quais podem ser produzidas na propriedade da família ou serem
obtidas de outras propriedades.
[ii]
Conforme Wanderley (2000) é possível afirmar que o modo de vida no meio rural
tende a modificar com o passar do tempo. “O camponês tradicional não tem
propriamente uma profissão; é o seu modo de vida que articula as múltiplas
dimensões de suas atividades. A modernização o transforma num agricultor,
profissão, sem dúvida, multidimensional, mas que pode ser aprendida em escolas
especializadas e com os especialistas dos serviços de assistência técnica”
(Wanderley 2003, 45).