Eutopia. Revista de Desarrollo Económico Territorial N.° 21, junio 2022, pp. 143-164
ISSN 13905708/e-ISSN 26028239
DOI:
10.17141/eutopia.21.2022.5386
Contribuição
das festas para a valorização do patrimônio imaterial alimentar nas linhas
rurais
Contribution of feasts to valuation food intangible heritage in rural
communities
Romilda de Souza Lima. Universidade Estadual do
Oeste do Paraná, romislima2@gmail.com, https://orcid.org/0000-0002-0968-0044
Recibido: 03/03/2022 - Aceptado: 12/05/2022
Publicado:
30/06/2022
Resumo
Este texto diz respeito
a uma parte de pesquisa realizada em 2019 em Marechal Cândido Rondon, no
Paraná. Neste município ocorrem, anualmente, 20 festas culinárias, ou
gastronômicas, nas várias comunidades rurais, ocasiões que envolve muitos
moradores dessas comunidades na logística de organização e preparo da comida a
ser servida. O objetivo foi o de investigar, analisar e registrar os limites e
as potencialidades das referidas festas que, pela importância para o município
e seus habitantes, podem ser consideradas como um patrimônio imaterial da
cultura alimentar local, por meio das festas que ocorrem no interior, nas
linhas rurais. É importante refletir que, apesar de algumas modificações e
adaptações, ao longo dos anos, as festas estudadas continuam sendo
reproduzidas, bem como os pratos considerados típicos, ainda que com alterações
dos ingredientes. Se não é o melhor que se tem em termos de nutrição e do
aproveitamento dos produtos da agricultura familiar local, elas ainda
permanecem como categoria de festas tradicionais.
Palavras chave: Festas
gastronômicas; Rural; Patrimônio imaterial; Cultura alimentar.
Abstract
This text concerns a part of research carried out in 2019 in Marechal
Cândido Rondon, Paraná. In this municipality, annually,
20 culinary or gastronomic feasts take place in the various rural communities,
occasions that involve many residents of these communities in the logistics of
organizing and preparing the food to be served. The objective was to
investigate, analyze and record the limits and potential of the aforementioned
feasts, which, due to their importance for the municipality and its
inhabitants, can be considered as an intangible heritage of the local food
culture, through the parties that take place in rural communities. . It is important to reflect that, despite some
modifications and adaptations, over the years, the feasts studied continue to
be reproduced, as well as the dishes considered typical, albeit with changes in
the ingredients. If they are not the best in terms of nutrition and the use of
products from local family farming, they still remain
a category of traditional festivals.
Keywords: gastronomic
feasts; Rural; Intangible heritage; Food culture.
Introdução
Este texto diz respeito a discussão componente de
dissertação de mestrado defendida em 2019. Discorre sobre cultura, patrimônio
imaterial alimentar e sobre festas que ocorrem em áreas rurais. A pesquisa de
campo ocorreu em Marechal Cândido Rondon, município do Oeste do Paraná, cujo
objetivo central foi a realização de um estudo sobre as festas que ocorrem nas
linhas rurais, acreditando que tal pesquisa pode contribuir para a valorização
da cultura alimentar local, reduzindo o risco, em médio prazo, da perda de
referenciais importantes no que se refere à patrimônio cultural alimentar.
Isso, sobretudo, em face das modificações decorrentes da industrialização da
produção e do consumo dos alimentos, do distanciamento da produção e do
ecossistema local, do enfraquecimento do espaço social alimentar e das
consequências do ordenamento capitalista da produção, do processamento e do
consumo de alimentos no mundo globalizado.
A metodologia
da pesquisa de mestrado, ao qual este artigo apresenta uma síntese, envolveu um
estudo de caso com abordagem quanti-qualitativa, enfatizando-se a qualitativa
que, segundo Richardson (2012, p.79-80), “busca por uma compreensão detalhada
dos significados e características situacionais dos fenômenos, procurando os
aspectos subjetivos dos fenômenos e as motivações não explícitas dos
comportamentos.” Foram estudadas as vinte festas que ocorrem nas linhas – ou
comunidades – rurais do município, suas características e dinâmicas. Aplicou-se
também entrevistas com pelo menos um representante que exerce liderança de cada
uma das festas, num total de 24 entrevistas semiestruturadas.
No que se refere à replicabilidade da pesquisa, ela
apresenta dados e informações que podem contribuir com outras pesquisas em área
semelhante podendo ser, por exemplo, utilizada como comparativo com outros
estudos. Nesse sentido é importante compreender que estudos de casos são
estratégias metodológicas importantes em estudos descritivos e exploratórios de
fenômenos contemporâneos, como apontado por Gil (2010) e Yin (2001), mas é
também um método que apresenta limitações, a mais considerável é que ela diz
respeito à uma determinada situação ou local pesquisado e, portanto, não pode
ser generalizado. Ou seja, as informações referentes a este estudo e as
manifestações e dinâmicas das festas não necessariamente coincidirão com
estudos semelhantes ocorridos em outro lugar.
Trata-se de
um município em que ainda há potenciais de reprodução do comer tradicional
devido aos importantes aspectos dos modos típicos do saber-fazer alimentar e
dos rituais nas festas locais, haja vista que a comida é um importante elo
entre as pessoas e seu território, ampliando a identitária e a noção de
pertencimento.
Este artigo está esquematizado em introdução,
abordagem teórica sobre: 1.Cultura e patrimônio
imaterial da alimentação e da comida; 2. Os sentidos e as discussões sobre
patrimônio alimentar; 3. A importância das festas como mantenedoras de práticas
alimentares. Na sequência apresentam-se as informações e discussões sobre a
dinâmica das festas das linhas rurais do município e, por fim, as considerações
finais do artigo.
A alimentação pode ser considerada como um fato social
total, no sentido dado por Marcel Mauss em “Ensaio
Sobre a Dádiva: forma e razão da troca nas sociedades arcaicas”, publicado pela
primeira vez em 1925. Em torno dela ocorrem interações e correlações
importantes que dizem respeito aos fatores sociais, culturais e econômicos de
quem a pratica. Além disso, o ato alimentar é tão
antigo quanto a humanidade, pois, segundo Câmara Cascudo (2004, p. 340), “no
princípio foi a fome! Depois da respiração, a primeira determinante vital é o
alimento”. O processo cultural tornou essa ação que, antes de tudo, é
fundamental para a sobrevivência humana, em uma elaboração cultural riquíssima,
que envolve práticas alimentares diversas espalhadas pelo mundo (GARCIA, 2013;
FLANDRIN; MONTANARI, 1998; WRANGHAM, 2010).
A
cultura é expressa por um conjunto de conhecimentos e habilidades humanas que,
cotidianamente, instrumentalizam o comportamento apreendido ao longo da
história. Como discutem Contreras; Gracia 2011, p.
126-127: “A necessidade de recorrer aos aspectos culturais para se compreender
a alimentação humana baseia-se na constatação de que os próprios
condicionamentos biológicos puderam se concretizar de diferentes modos em
diferentes sociedades”.
Nesse
sentido, a comida caseira e a interação com os alimentos estão entre os
principais fatores de reconhecimento da identidade de um povo, haja vista que
os hábitos alimentares formados na infância acompanham os indivíduos ao longo
de sua vida, fenômeno observado claramente nos imigrantes. Assim, a
alimentação, como expressão cultural, não se limita à ingestão de gêneros
alimentícios, pois abrange o modo de preparo dos alimentos, as relações
interpessoais envolvidas no preparo, o comportamento à mesa, os utensílios, o
modo de consumo alimentar, dentre outros elementos importantes. (PINTO; SIMÕES,
2016). E, ainda, como reforçado por Fischler (1995, p. 67-68), “a comida e a
cozinha são um elemento capital do sentimento coletivo de pertencimento. Em
certas situações de migração é possível observar que alguns traços culinários persistem
mesmo quando o idioma de origem foi esquecido”.
Os diversos grupos
sociais relacionam significados diferentes ao ato de comer, dentre os quais,
como comer, quando comer e com quem comer, além das questões relativas ao
espaço ocupado pelos alimentos e pela comida na coletividade e nos processos de
saúde/doença (MENASCHE, 2012).
A
sociologia da alimentação advém, por lógica, dos fatores relacionados ao fato
social: qualquer produção da sociedade exige o desenvolvimento de formas de
abastecimento alimentar, pois nenhuma outra atividade é semelhantemente
permanente na história humana. Nesse processo, encontram-se as variações, pois
os alimentos regionais, neste sentido, tornam-se uma ferramenta cultural
poderosa na defesa da coletividade, mantendo as características dos hábitos
populares, anulando algum prato estranho na comunidade local (CASCUDO, 2004).
A
culinária é um ato cultural de representação e pertencimento, aspectos que
podem ser observados na trajetória dos imigrantes, pois quando preparam o prato
‘típico’ de suas origens, aproximam-se das lembranças, sentindo-se parte
daquela cultura. Mesmo longe, a culinária resgata diversas memórias da
infância, da terra de origem, de um evento ou viagem (CAETANO et al., 2012).
O vocabulário de cada período, além de
transmitir imagens mentais, apresenta-se como indicador da conduta social no
que se refere ao respeito e ao uso da linguagem obrigatória nas regras sociais
vigentes (CASCUDO, 2004, p. 341). Nesse sentido, esclarecer o autor que as
palavras de uma liderança social têm poder de transformar a realidade, seja na
população, no uso dos recursos econômicos, ou mesmo nos costumes norteados pela
palavra geradora. Dessa forma, as palavras com valores diferentes dos
anteriores, são a primeira e definitiva forma de mudança.
Segundo
Silva (2017), nos grupos que se deslocaram para outros locais ou regiões, a
manutenção dos hábitos alimentares adquiridos na origem atua como um reforço
identitário em meio a um ambiente cultural diferente do seu local de
nascimento. Corroborando essa ideia, Lima (2015) argumenta que o
gosto, formador do hábito, é construído no convivio com outros grupos e que,
não por acaso, em relação à comida, quase sempre as preferências entre os
membros de uma mesma família são semelhantes. É o gosto também que classifica e
distingue uma pessoa de outra, um grupo de outro.
Em outras palavras, pode-se dizer que na formação do
gosto alimentar estão presentes diferentes aspectos socioculturais que
interferirão nas escolhas e embora possa ocorrer, o sistema alimentar de um
grupo não necessariamente será adotado por um outro, pois está ligado às
questões culturais que, em função de diversos fatores, podem contribuir para a
rejeição de determinadas práticas alimentares.
Por
sistema alimentar entende-se “o conjunto de conhecimentos repassados de geração
em geração, que incluem o saber-fazer, o gosto, as regras, as etiquetas”,
dentre outros aspectos que contribuem no processo de escolha dos recursos
presentes num espaço natural e determinam sua transformação em alimentos para
consumo de uma dada cultura. Essa cultura, por sua vez, reconhece estes códigos
simbólicos expressos no preparo dos alimentos com parte da construção de sua
identidade cultural (POULAIN, 2001, apud Lima, 2015, p. 47).
No
processo de escolha alimentar, a eleição ou a recusa do alimento está vinculada
a códigos culturais que nivelam essa diferença, especialmente diante de
alimentos distintos dos tradicionais e conhecidos. Assim, entende-se que a
formação da cultura alimentar de uma localidade recebe influências dos fluxos
migratórios.
A
satisfação das necessidades alimentares dos seres humanos não pode ser
considerada estritamente utilitária ou tecnológica, haja vista sua função
estruturante na organização da vida social, pois tanto na produção quanto na
distribuição, no preparo ou no consumo, a comida é o componente central nas
diferentes etapas (POULAIN, 2013).
Segundo
a UNESCO (2010), o “Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade” contempla
práticas, conhecimentos e expressões relacionadas à identidade de grupos
sociais, reproduzidos entre gerações. Em tal contexto compreendemos a comida
como patrimônio cultural. Para isso buscamos respaldo em Hernández (2005, p.
130), para quem “os
objetos do patrimônio permitem interpretar a história e o território no tempo e
no espaço. Essa relação fornece sentido à vida coletiva, alimentando o
sentimento de pertencer a um grupo com identidade própria”.
Os aspectos imateriais
da cultura alimentar são fundamentais para a manutenção da identidade cultural,
sobretudo quando se leva em consideração as rápidas mudanças alimentares no
contexto da modernidade, em que o ato alimentar vai se transformando em
coisificação ou apenas em mais uma tarefa a cumprir no cotidiano, valorizado
muito mais em face da necessidade fisiológica de sustentação do indivíduo, mas
desconectado da relação humana e ecológica da atitude alimentar.
Sob esse prisma, os
processos de produção cultural são tão importantes quanto o patrimônio
material, pois estão sujeitos ao risco de se tornarem uma categoria social
praticamente vazia em face da ausência dos valores culturais imateriais. Não
obstante, a manutenção de muitos dos hábitos alimentares tradicionais pode
colaborar para a manutenção da Soberania Alimentar e da Segurança Alimentar e
Nutricional por se tratar de elementos desejáveis dos diferentes grupos étnicos
e por ser um dos principais meios de manifestação da identidade e cultura de um
grupo.
No entanto, o que se observa nas
discussões contemporâneas sobre o assunto é que parece se ampliar um processo
que distancia os consumidores de alimentos daquele de produção alimentar.
Acerca disso, Goergen (2000), observa que embora o
ser humano tenha alcançado níveis elevadíssimos no conhecimento científico sobre
o meio ambiente, isso não parece vir, por sí só,
atrelado à sabedoria nas formas de lidar com a natureza, chegando a vê-la como
inimiga, como um empecilho para o desenvolvimento e por isso se afastando dela.
Ainda em um contexto de processo de
transformação na pós-modernidade, o ritmo de vida cada vez mais acelerado e,
consequentemente, com tempo também escasso para as tantas demandas diárias,
onde prioriza-se o trabalho, já há algum tempo um investimento tecnológico no
sentido de tornar mais rápido e fácil as formas de se alimentar. Em
consequência, o consumo de produtos alimentícios ultraprocessados
se tornou cada vez maior, levando muitas crianças das grandes cidades, e não
apenas elas, a não saber a origem de muitos produtos que ingerem, por exemplo,
o leite da vaca, o ovo da galinha, alguns vegetais, dentre outros.
Sobre este último ponto, uma
pesquisa recém-publicada (Hahn; Gllogly; Bradford
2021) no Journal of
Environmental Psychology, com 176 crianças de 4 a 7
anos nos Estados Unidos, apontou o desconhecimento das crianças sobre a origem
de alimentos consumidos no cotidiano, sobretudo, os de origem animal, neste
caso 30% delas classificou alimentos de origem animal como sendo vegetal,
inclusive os nuggets. Já 47% das
crianças identificaram as batatas como um alimento de origem animal. São
reflexões muito importantes a serem feitas nos tempos atuais. Tais confusões
possivelmente afetem muito mais a crianças moradoras das áreas urbanas do que
as vivem no campo.
Para a sustentabilidade do patrimônio imaterial alimentar, a industrialização da produção alimentar, e seu amplo consumo, – não obstante às suas vantagens práticas –trouxe pelo menos três consequências relevantes: a desconexão entre a produção e o consumo de alimentos, reduzindo a importância do espaço social alimentar e a inter-relação existente entre eles, a perda da integridade entre a produção e seu ecossistema local, promovida pela agricultura industrial, que impõe o uso de fatores de crescimento sobre a natureza, contribuindo para provável eliminação completa desta e, por último, o capital dominante, que ordena as estruturas de produção, processamento e consumo de alimentos no mundo globalizado (PLOEG, 2008).
Martins et al (2013),
analisaram as pesquisas de orçamentos familiares dos anos 2002 e 2008,
observando o aumento da contribuição calórica dos produtos prontos para o
consumo ao longo de seis anos entre as pesquisas, encontrando um aumento de 23%
para 27,8%. Nesse processo, destaca-se os produtos ultraprocessados,
que passaram de 20,8% para 25,4%. Ainda observaram o declínio significativo, de
41,8% para 40,2%, da contribuição calórica de alimentos in natura ou minimamente processados e de ingredientes culinários,
utilizados no preparo de refeições caseiras, de 35,2% para 32%. A participação
do arroz e feijão no total de calorias adquiridas pelos brasileiros, reduziu
respectivamente 7,1%, e 16,7%, no mesmo período.
Em comparação à análise acima,
verificamos que dados do IBGE (2019), relativos à Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POF) 2017-2018, mostrou que em relação a POF 2008-2009, houve uma
redução de 11,2% no consumo de arroz e feijão no Brasil. A mesma pesquisa
aponta ainda uma redução no consumo de frutas e um aumento no consumo de fast food, principalmente consumidos por
adolescentes.
As ações alimentares da
pós-modernidade (Bauman, 1998) tem nos afastado da
terra, da produção agrícola, dos alimentos in natura, do conhecimento daquilo
que comemos, que como aponta Mintz (2001, p.31) “nenhum
outro comportamento não automático se liga de modo tão íntimo à nossa
sobrevivência”. O estudo das festas rurais que ocorrem em Marechal Cândido
Rondon, nos permitiu inferir que elas contribuem intensamente para a
valorização da cultura alimentar local, da manutenção de muitas das práticas
alimentares da produção ao consumo, muito embora venha passando por algumas
mudanças em que algumas atividades se modernizam, alguns ingredientes são
substituídos por não serem mais produzidos no local. Essas questões são
apontadas mais à frente neste artigo.
Os sentidos e as discussões sobre
patrimônio alimentar
“Comida é Patrimônio”, assinala a
campanha do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
(FBSSAN) lançada em 2015, cujo foco era a “valorização da identidade alimentar, presente nas
ricas regionalidades culinárias do país, bem como nas dimensões sociais,
culturais, econômicas e políticas”[i] (p.1). Por ser tão importante
a alimentação/comida, termina por ser resguardada e protegida juridicamente,
sendo classificada como patrimônio imaterial, e, nesses casos acompanhadas pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Mas,
ainda que não registrada formalmente, a comida é patrimônio, carregada de
identidades vinculadas a territórios e modos de vida e de práticas alimentares
diversas. Compreendendo a ideia de território como o que é discutido por Saquet; Sposito (2008, p.26) como
sendo “conexão, articulação, resultado e condição da dinâmica sócio espacial”.
Segundo
Poulain (2013, p. 35) “a
história da alimentação mostrou que, cada vez que identidades locais são postas
em perigo, a cozinha e as maneiras à mesa são os lugares privilegiados de resistência”. Para este autor, a patrimonialização da alimentação, com suas representações
do espaço social alimentar, coloca os produtos, os objetos e habilidades
utilizadas em sua produção, transformação, consumo e conservação, juntamente
com os códigos sociais – modos de cozinhar, de comer e de beber – como
elementos identitários componentes da construção cada grupo social. Essa forma
de compreensão amplia o patrimônio de material para imaterial, envolvendo as
práticas cotidianas de espaços sociais populares e “reconhecendo as culturas
alimentares locais como gastronomia, e, ainda, como patrimônios gastronômicos
regionais”.
O comer bem, passa pela
associação entre o consumir o que é produzido localmente, preparado pelos
chamados guardiões do patrimônio gastronômico, misturando sabores e sentidos.
Giddens (2012) aponta que a tradição e os costumes possuem guardiões dos
saberes que se responsabilizam por manter vivas as memórias afetivas e
tradições dos seus grupos respectivos, possuindo ainda a função de repassá-las
às futuras gerações. Nesse sentindo, o autor discute tradição atrelada à
repetição e à passagem do tempo em direção ao futuro que resguarda orientações
do passado, ou seja, modos de fazer que são elaborados de tal maneira que
influenciem fortemente a sua repetição e reprodução no presente e, em se
perpetuando no presente, tornem possível organizar as ações do futuro,
resguardando as tradições.
Tais memórias se tornam
dinâmicas e ativas ao serem reproduzidas e, de acordo com Lima (2015, p. 82),
“a presença desses guardiães se torna ainda mais importante no mundo
contemporâneo para que as experiências passadas, seus erros e acertos não se
percam da sociedade”.
A memória, dessa forma,
é meio de preservação de práticas sociais e culturais que, em se mantendo
vivas, podem ser repassadas. Conforme Poulain (2013),
o interesse pela cozinha regional está situado na nostalgia de um espaço social
em que o comensal não tinha muitos receios, pois se abrigava na cultura
culinária com que era identificante e que o identificava.
Nesse
sentido, cada sociedade é que define o que é bom ou não para comer, como aponta
Harris (2011) o que é desprezado como alimento por uma determinada cultura,
pode ser considerada uma iguaria em outra.
Fischler
(1995) denominou de sistema alimentar,
ao qual ele utiliza o termo sistema culinário, como as dinâmicas e relações que
ocorrem para além do espaço da elaboração e técnicas de preparo. “São
representações, crenças e práticas que estão associadas a ela e que são
compartilhadas pelos indivíduos que compõem uma cultura ou um grupo no interior
dessa cultura” (p. 34).
Compreendemos
que a discussão de sistema social alimentar ou sistema culinários tem muita
conexão com a ideia de território trazida por Saquet
(2017, p. 42). Segundo o autor existem “redes e nós” na organização da
territorialidade e nesse contexto, “cada sociedade organza seu espaço
combinando esses elementos e, desta maneira, produz seu território de forma
relacional e multidimensional”. Tal pensamento muito explica sobre as relações
que ocorrem durante a organização das festividades ocorridas nas linhas rurais
de Marechal Cândido Rondon e das quais tratamos neste artigo, pois os “nós e as
redes” são algumas vezes muito perceptíveis, outras mais veladas, mas a
organização das festas está respaldada na organização da territorialidade.
As
festas como mantenedoras de práticas alimentares
O contato e a
participação nas festas são formas de se conhecer aspectos da sociabilidade e
os elementos constitutivos da cultura, da tradição e dos costumes locais,
implicando em aprendizado de participação, seleção, negociação, conscientização
de direitos e deveres, além de responsabilidades de ordem sociais e políticas.
Para Amaral (1998) as
festas contribuem na construção da sociedade, pois é na sociabilidade que são
construídas as consciências culturais, sociais, morais, dentre outras. As
festas são feitas pelo povo e para o povo e constituem um espaço de afirmação
cultural dos grupos que possuem relações afetivas e de manutenção cultural e
social. As relações e contatos que ocorrem nas festas carregam em si os
aspectos mais fortes da cultura, de modo denso, além de permitir a apreensão de
modos de viver, sendo uma das dimensões em que ocorrem as primeiras
experiências de se sentir pertencente a um espaço social e ainda, de
oportunizar a transmissão intergeracional da cultura e da identidade de um
povo, “e, através desse compartilhar de alimentos especiais, revigoram-se os
laços de solidariedade e de pertencimento (p.102).
As festas são consideradas
por Ewbank (1976) um dos principais passatempos do
povo brasileiro e ignorá-las seria omitir os atos mais populares deste povo.
Elas são um dos meios para que ocorra a afirmação do indivíduo como cidadão
participante, com seu lugar na comunidade e na sociedade política e que se
difunda determinadas práticas culturais, dentre as quais, a alimentação, haja
vista que a comida possui um importante caráter simbólico com poder de agregar
pessoas.
No que se refere à
Marechal Cândido Rondon, as festas são também importantes representações
culturais. Para além de ser mantenedora de tradições e peculiaridades dos
grupos alemães que colonizaram a região, elas reúnem famílias – inclusive os
parentes que já na habitam mais no município, atrai turistas e cria, de tempos
em tempos, cenários distintivos característicos de cada um dos principais
festejos que ocorrem no município. É o caso das fachadas das casas e dos
galpões onde acontecem as festas, bem como do portal da cidade, que sinalizam o
tempo todo que a cultura alemã perpassa o cotidiano dos seus habitantes. Elas
ocorrem neste município são ainda mais importantes ao analisar o contexto que
atual, em que se amplia a tendência à individualização e em que as identidades,
como sinaliza Hall (2000), estão sendo “deslocadas” ou “fragmentadas”.
O
município localiza-se no Oeste do Estado do Paraná, Brasil (Figura 1),
apresenta características tipicamente germânicas, pois há prevalência da
população de descendência alemã e o uso comum do dialeto alemão entre as pessoas
com mais idade é recorrente, bem como as expressões herdadas da cultura
material da origem germânica em várias edificações, que foram construídas no
estilo arquitetônico Enxaimel,
evidenciando o desejo do seu povo em fazer a manutenção da cultura herdada de
seus antepassados. Vieram, sobretudo dos Estados de Santa Catarina e do Rio
Grande do Sul.
Figura 1 - Localização de Marechal Cândido Rondon - Paraná.
Fonte: IBGE Cidades
A organização em grupos
para a realização das festas identitárias que ocorrem no município são
carregadas de simbologias e de ritos permeados por uma coesão de grupo sobre o
que manter, o que destacar, o que reproduzir para perpetuar a ideia dos eventos
como patrimônio local e, portanto, tradicional. No mesmo sentindo, essas
organizações precisam permanecer conectadas ao cotidiano e aos modos de
reprodução social e econômica dos grupos, pois, não por acaso, desde o período
de ocupação da região, muitas festas estão diretamente ligadas ao rural e aos
modos de vida do campo. Isso se aplica também à culinária que se desenvolve nas
festas.
Desde a chegada dos
colonos à região, a agricultura de base familiar envolvia todos os membros das
famílias no exercício das atividades laborais e de sobrevivência, desde o
cultivo da agricultura e da pecuária às colheitas, perpassando as práticas de
abates dos animais e os afazeres da casa, como o preparo das refeições. Com
todas estas dificuldades as festas constituíam momentos de diversão para
aliviar os sentimentos ruins e os desconfortos produzidos pela rotina
cotidiana, o que era uma das características de adaptação e como um princípio
de união de confraternização comunitária que permanece até os dias atuais.
A
dinâmica das festas gastronômicas das linhas rurais do município
As festas
populares, sobretudo, as do meio rural, costumam apresentar na culinária uma importante referência sobre o local. Nesses casos, as
comidas servidas falam representam um tipo de linguagem haja vista expressar
peculiaridades sobre o grupo que promove a festa. Se forem típicas podem
“contar” parte da história local, assim como falar dos hábitos e práticas
alimentares, por representar parte do patrimônio cultural imaterial local. Em
Marechal Cândido Rondon, acontecem anualmente 24 festas gastronômicas e pouco se sabe sobre elas no que se refere a
estudo de sua importância patrimonial e cultural. Abaixo citamos as principais
festas e os locais que abrangem:
Costelão assado: Associações de moradores das linhas Bela
Vista e Marrecos e dos Bairros Augusto I e II e Jardim Lider, assim como no
Clube Lira.
Boi
assado no rolete: Expo-Rondon
e da associação de moradores da linha Três Voltas.
Outros
pratos à base de carne bovina: Associação de moradores das linhas Ajuricaba, Arara e
São João, dos Distritos de Bom Jardim e Curvado
Pratos à
base de suínos:
Associações de moradores do bairro Alvorada, do Jardim Marechal, das linhas
Ajuricaba, Maracanã, São Cristovão e Três Voltas, do
distrito de Margarida e da Associação de Suinocultores de Marechal Cândido
Rondon.
Pratos à
base de frango: Associação
de moradores das linhas Ajuricaba, Palmital e São Cristovão
e o Distrito de Novo Horizonte.
Para a
pesquisa privilegiou-se a análise das vinte festas gastronômicas que ocorrem na
zona rural do município, conforme abaixo discriminadas no Quadro 1, descrevendo
o nome da festa, a data de realização do evento no ano de 2019, a associação de
moradores em que aconteceu e a data de fundação da associação de moradores.
Quadro
1 –
Festas gastronômicas das linhas rurais analisadas na pesquisa.
Nº |
Evento |
Data
da festa |
Associação
de Moradores |
Data
de Fundação |
|||
1 |
Festa do Costelão |
31 de março de 2019 |
Linha Marrecos |
11 de outubro de 1991 |
|
||
2 |
Festa do Frango |
13 de abril de 2019 |
Linha Palmital |
22 de abril de 1993 |
|
||
3 |
Festa do Costelão |
14 de abril de 2019 |
Bela Vista |
23 de maio de 1990 |
|
||
4 |
Almoço Italiano |
04 de maio de 2019 |
Novo Horizonte |
09 de setembro de 1989 |
|
||
5 |
Festa do Matambre |
05 de maio de 2019 |
Bom Jardim |
30 de março de 2010* |
|
||
6 |
Festa típica Polonesa |
05 de maio de 2019 |
Lnha
Campo Salles |
02 de fevereiro de 1988 |
|
||
7 |
Festa do Costelão |
19 de maio de 2019 |
Clube Lira |
02 de setembro de 1987 |
|
||
8 |
Festa da Ponta de Peito |
26 de maio de 2019 |
Linha Ajuricaba |
27 de março de 1992 |
|
||
9 |
Jantar Boi na Estufa |
03 de agosto de 2019 |
Linha Arara |
28 de novembro de 1989 |
|
||
10 |
Milch
Fest |
16 e 17 de agosto de 2019 |
Linha Heidrich |
02 de julho de 1992 |
|
||
11 |
Leitão a
Pururuca |
25 de agosto de 2019 |
Clube Corinthians |
01 de março de 1989 |
|
||
12 |
Almoço |
01 de setembro de 2019 |
Linha Concórdia |
24 de janeiro de 1987 |
|
||
13 |
Cupim recheado |
01 de setembro de 2019 |
Vila Curvado |
11 de fevereiro de 1992 |
|
||
14 |
Leitão a
Pururuca |
01 de setembro de 2019 |
Linha Maracanã |
15 de março de 1994 |
|
||
15 |
Leitão a São Cristovão |
08 de setembro de 2019 |
Linha São Cristovão |
03 de novembro de 1989 |
|
||
16 |
Festa do Búfalo |
22 de setembro de 2019 |
São Roque |
26 de junho de 1991 |
|
||
17 |
Festa da Ponta de Peito |
29 de setembro de 2019 |
Novo Três Passos |
30 de junho de 1989 |
|
||
18 |
Boi no Rolete |
13 de outubro de 2019 |
Linha 3 voltas |
30 de setembro de 1991 |
|
||
19 |
Festa do Cupim |
03 de novembro de 2019 |
Linha São Bernardo |
Setembro de 1990 |
|
||
20 |
Espeto corrido |
24 de novembro de 2019 |
Linha Guavirá |
28 de abril de 1993 |
|
||
Fonte: Elaborado
pelos autores com base em pesquisa de campo (2019).
Ao analisar as vinte
festas gastronômicas observamos que em quatro delas o prato principal é a base
carne suína (leitão); em outras onze festas, a predominância é a carne bovina
(boi no rolete, costelão, churrasco tradicional,
cupim, matambre e ponta de peito); em três, predomina a carne de aves (frango e
pato) e em uma delas, o produto básico da culinária é o leite (Milchfest).
O predomínio étnico das
famílias associadas é de descendentes de alemães (em 14 localidades),
descendentes de alemães e poloneses (em 3 localidades), descendentes
predominantemente de poloneses (em 2 localidades) e descendentes de alemães e
italianos (em 1 localidade). Ocorrendo também, embora em menor quantidade, a presença
de descendentes de paraguaios.
Para todos os
entrevistados as festas gastronômicas comunitárias constituem um espaço de
sociabilidade importante devido a necessidade de interação social, aos momentos
de lazer e pelo sentimento de pertencimento, conforme expresso pelo senhor Ildomar da associação de moradores da linha Maracanã: “Eu me criei aqui nesses morros, vim criança
do Rio Grande do Sul para cá”.
As festas gastronômicas
em especial, aquelas com características rurais, possuem potencial para incentivar
o deslocamento frequente de moradores urbanos, quer seja pela procura de lazer,
ou pela manutenção de valores verdadeiros e genuínos, além de raízes e relações
de amizade, ou seja, formas mais simples de viver em regiões menos urbanas
(BESSIÈRE, 1998).
Para a associação de
moradores da linha Heidrich, a festa também é um
importante canal de comercialização da produção dos agricultores da localidade,
pois os alimentos são adquiridos dos sócios e/ou moradores para a realização da
Milchfest (Festa do Leite), que produz um completo
café colonial em que são servidos os derivados do leite (queijo, requeijão e
doce de leite), além de alimentos como pães de trigo, milho e mandioca, rosca
de polvilho, bolachas caseiras pintadas com glacê de clara de ovo e açúcar,
geleias de frutas, salame, torresmo suíno, ovos, melado, mel, bolos diversos e
a tradicional cuca alemã (StreuselKuchen: cuca de
flocos)[ii].
Para Dorneles (2001), o consumo do café colonial cria uma identidade associada
a localidade, seus moradores e a reciprocidade entre os anfitriões e os
visitantes.
Se todas as festas
gastronômicas de Marechal Cândido Rondon adotassem como prática a aquisição dos
alimentos de agricultores familiares locais (sócios ou não), resultaria em
relevante estratégia para melhorar os indicadores econômicos e sociais das
localidades, contribuindo para inserção de mão de obra e a manutenção deste
importante canal de comercialização para os agricultores, que apresentam
dificuldades de acesso aos mercados.
Bortnowska; Alberton;
Marinho (2012), observaram em seus estudos realizados na Serra Gaúcha (RS) que
a vinculação da cozinha local com festas gastronômicas é uma estratégia popular
para ajudar economicamente a localidade que a realiza, além de se configurar
como uma estratégia de turismo regional.
As apresentações
culturais nas festas são poucas, ocorrem alguns concursos de assadores, de
recheios e de ornamentação. No dia da festa, a maioria delas realiza uma
“matiné” (baile que ocorre no período da tarde), ou “mati-baile”,
(baile que ocorre no início da noite), ou ainda, o tradicional baile, que
ocorre após a refeição nas festas noturnas. Outras atividades culturais ocorrem
nas associações em datas diferentes da festa gastronômica, como as festas
juninas e suas características culturais, além das encenações teatrais e a
gincana da ACJC.
A realização de bailes e
de concursos de assadores, de recheios e de ornamentação são estratégias
utilizadas para aumentar a interação dos participantes com a comunidade local,
oportunizando laços de amizade, econômicos e sociais que contribuem para a
sustentabilidade das festas e, consequentemente, para sua realização anual por
meio da valorização daqueles que as fazem acontecer. Tudo isso reforça a
importância desses eventos para o fortalecimento de vínculos e do sentimento de
pertencimento à comunidade, além de encorajar a permanência dos agricultores no
campo.
A maioria das festas
tiveram suas origens na década de 1990, com destaque para o tradicional
churrasco servido com os acompanhamentos (arroz, mandioca, farofa e saladas de
diversos tipos). No entanto, com o passar do tempo as associações foram
diversificando os pratos principais e alguns ingredientes mudaram ao longo do
tempo, com destaque para os pães, que antes eram caseiros de mandioca, milho ou
trigo e foram substituídos por pão francês; a farofa artesanal foi substituída
pela industrializada; as conservas caseiras de pepinos foram substituídas por
conservas processadas pela indústria e foram incluídos outros temperos
industrializados.
Bortnowska; Alberton;
Marinho (2012), destacam como aspecto negativo nas festas da Serra Gaucha, que estudaram, as adaptações de matéria-prima e do
modo de preparo, devido ao risco de perda da identidade dos pratos típicos. É
importante destacar aqui, que são as características genuínas dos pratos
tradicionais, conservadas por anos, que despertam o interesse dos consumidores;
a mudança de ingredientes e do modo de preparo podem ameaçar a sustentabilidade
das festas gastronômicas e ainda, comprometer a transmissão intergeracional
destas características genuínas.
Observa-se isso com as
cucas, que não deixaram de ser produzidas artesanalmente na maioria das
associações de moradores.
Seria muito importante
se isso se mantivesse com todos os pratos das festas, pois garantiria mais
autenticidade nas características de cada prato servido. Em todas as festas os
pratos são elaborados tendo como referência a cozinha de memória, sem receitas
escritas a serem seguidas, somente pela experiência, pelo aprendizado que se deu
pela oralidade, pelo “olho”, pela prática. Os itens que seguem receitas são a
cuca caseira e o Pierogi (Pyrohy, na Polônia e Ucrânia),
massa recheada, fechada em formato de meia lua, cozida e servida com molhos
(TELEGINSKI, 2016).
Em relação às técnicas
de preparo dos alimentos das festas em análise, houve algumas mudanças, por
exemplo, com o Costelão, que deixou de ser assado no
fogo de chão e passou a ser assado na estufa, assim como o Matambre[iii],
inicialmente era assado em churrasqueira e passou a ser assado na cúpula - um
tipo de forno de alvenaria e ferro, e com chaminé. Na festa do frango, o
processo também passou por alteração, pois antes a ave era assada inteira e
passou a ser preparado e servido em diversas opções de pratos. A festa da linha
Marrecos deixou de servir o marreco como prato principal e o substituiu pelo
leitão assado.
Outra modificação notada
se deu em relação à salada, que deixou de ser servida nas mesas dos comensais,
passando a ser disposta em buffet. Ao
longo dos últimos anos todas as festas aumentaram a variedade de saladas e
algumas ainda modificaram o tipo de tempero utilizado, passando do uso de
temperos naturais para tempero industrializados, incluindo amaciante de carnes,
que é rico em sal e contém antiumectantes, acidulantes
e aromatizantes.
Divisão
do trabalho na organização das festas
Em relação às equipes
responsáveis pela realização das festas, observa-se que, na maioria delas, os
homens é que se responsabilizam pelos serviços externos, a saber: limpeza do
pátio, abate de animais, providenciar lenha, temperar, rechear e assar as
carnes, no entanto, realizam alguns serviços internos, como organizar os bancos
e mesas, organizar e comercializar as bebidas na copa e servir as carnes. As
mulheres, na maioria das festas, são responsáveis pelos serviços internos,
como, a organização das compras para a cozinha, preparar os alimentos, fazer as
cucas, servir os itens da cozinha, lavar as louças, ajudar a servir a copa e a
limpeza dos banheiros. As crianças maiores e os adolescentes ajudam a servir o buffet, a recolher os lixos e as
latinhas de bebidas. Esse processo aponta para uma organização clara na divisão
dos papeis no trabalho de organização. Para a realização das festas, as
associações utilizam mão de obra dos sócios, familiares ou pessoas convidadas
com alguma ligação com a associação.
Volume
de comida produzida e servida
A quantidade de comida a
ser produzida é baseada no número de fichas comercializadas, considerando
quantidades per capta de cada alimento a ser preparado. A quantidade de refeições comercializadas
varia entre 250 (em duas: Festa com Churrasco Tradicional – Linha Concórdia e a
Festa do Boi na estufa e Porco à Pururuca – Linha Arara) e 1600 refeições (em
quatro delas: Festa do Matambre – Distrito de Bom Jardim; Festa do Costelão – Clube Lira – Linha Horizonte; Festa do Leitão à
Pururuca – Distrito de Margarida e a Festa do Búfalo no rolete).
Todas as festas juntas
comercializaram aproximadamente 16.525 refeições no ano de 2018, quantidade que
oscila a cada ano, sob influência de diferentes fatores, dentre os quais, a
capacidade de organização e articulação de cada diretoria, a coincidência ou a
proximidade de datas, a situação econômica da população de município e região,
as condições climáticas no dia do evento e as condições de acesso até a
localidade.
Quanto ao consumo de
carnes, quando somado no conjunto das festas no ano de 2018, obteve-se um total
de 6.665 kg de carne bovina, de 2.155 kg de carne suína, de 435 kg de carne de
frango, de 900 kg de carne de búfalo e de 40 kg de carne de pato. Sobre à comercialização das bebidas,
observou-se que há uma variação entre as menores e maiores festas, conforme
segue: água (120 a 1200 unidades de 500ml), cerveja (600 a 6000 latas de
350ml), chopp (470 a 2190 litros), refrigerante (300 a 2200 latas de 350ml) e
vinho (30 litros, somente uma festa). E ainda, a Milchfest serve café, leite, suco
de laranja e batida de morango com leite a vontade para os comensais.
Origem dos Alimentos
Em relação à
origem dos alimentos servidos nas festas gastronômicas, observa-se que 74% dos
alimentos são oriundos de supermercados; 13,9% são adquiridos dos sócios e/ou
agricultores familiares locais e 12% são doados pelos associados, que também
são agricultores familiares. Os alimentos mais adquiridos da agricultura
familiar são aqueles utilizados para a realização de cafés coloniais e os
alimentos mais doados são: alface, chuchu, cuca, mandioca, ovos, pepino e
repolho.
É
interessante observar que os produtos doados são aqueles muito próximos do
universo do rural feminino, pois são as mulheres as responsáveis pela
manutenção da horta e pelo galinheiro, ambos no entorno da casa, e pela
fabricação da cuca e do queijo. Além disso, há mandioca cozida e frita
(beneficiada em casa), ovos e chuchu, vegetal tido por muitos agricultores e
agricultoras como aquele que se reproduz fácil sem precisar de muito cuidado,
ou seja, comprar chuchu não faria muito sentido para agricultores, é um
alimento que pode ser doado. Tanto assim, que nenhuma das carnes é doada, nem
mesmo a do frango, mas os ovos sim, pois tem um custo relativamente baixo.
O mesmo
sentido, porém, não se aplica à doação da cuca artesanal (Kuchen), que faz parte da
tradição germânica. Para as mulheres adquirir a cuca no mercado para ser usada
nas festas seria quase uma ofensa, afinal há o desejo de ofertar a tradicional,
as receitas especiais de família – e não qualquer cuca. Para quem as prepara,
há o prazer de vê-la ser consumida prazerosamente pelos comensais e elogiada. A
cuca se localiza no intervalo entre o bolo doce e o pão doce e sua preparação e
doação para as festas aponta para a sua representação identitária numa
comunidade de fortes tradições alemãs. Existem vários tipos de cuca e de
recheios e embora não seja objeto dessa pesquisa, elas devem ser feitas a
partir de receitas transmitidas oralmente ou em cadernos de receitas mantidos
na família. Essa reflexão nos reporta a Lody (2008,
p.50): “a feitura artesanal do doce e também uma
realização estética, pois para ser gostoso, tem que ser bonito, porque
inicialmente se come com os olhos e depois se come com a boca, para afinal
comer-se com o espírito”. Em uma festa que se pretende tradicional e típica,
deseja-se também sentir o sabor do passado presente na comida.
Para Mauss (2003), quando as coisas são doadas há uma
reciprocidade de respeitos entre doador e donatário, bem como, um crescimento
de consciência em que as pessoas se dão ao dar, isto é, a coisa dada leva algo
do ser doador (amabilidades, banquetes, ritos, festas e outros, seja material
ou espiritual), perfazendo um ideal de nobreza e honra e o doador recebe o
prestígio que nasceu de sua iniciativa. Mas o autor também trata da
dádiva-troca que ocorre como ato simbólico: ao doar a cuca, por exemplo, ou o
queijo, o valor de troca não está no dinheiro pago por quem adquire o produto,
mas sim, no ato do consumo em si e da valorização do produto artesanal, que foi
feito e doado para aquela festa especificamente.
Classificação
dos alimentos
Nas festas gastronômicas
das linhas rurais de Marechal Cândido Rondon, 61,6% dos alimentos servidos são in natura, com uma diversidade de 30
tipos de alimentos, e, 13,4% são processados localmente, com uma diversidade de
20 tipos de alimentos. Outros 19,5% são processados na indústria, representados
por 8 tipos de alimentos, a saber: milho verde, pepino em conserva, farofa
pronta, pão francês, café, cerveja e chopp. Há também 5,6% de produtos
alimentícios ultraprocessados, representado pelo
refrigerante, que está presente em todas as festas analisadas, porém, na Milchfest, somente após a refeição, durante a
realização do baile.
É importante
ressaltar que os itens processados industrialmente adquiridos para as referidas
festas têm grande potencial de serem produzidos localmente, considerando que a
região é produtora de milho. A cuca e o pepino em conserva podem ser produzidos
de modo artesanal (como ocorre na maioria das festas), a farofa pode ser
temperada na cozinha das festas (considerando que Marechal Cândido Rondon tem
uma cerealista que produz a farinha de mandioca torrada sem tempero), o pão
francês pode ser substituído por pão caseiro, como ocorria no início de algumas
festas (décadas atrás), a cerveja e o chopp também podem ser artesanais, haja
vista que o município realiza anualmente o concurso de mestre cervejeiro
(cerveja caseira) e o festival da cerveja artesanal. Neste cenário, apenas o
café seria mais difícil de ser produzido localmente, considerando que o clima e
a ocorrência de geadas no inverno dificultam a produção, ainda assim, seria
possível adquiri-lo de associações ou cooperativas de agricultores familiares
de outras regiões do Estado do Paraná.
Em relação
aos alimentos in natura utilizados
nas festas, 74,2% são adquiridos dos supermercados, 13,9% são doados pelos
associados e 11,9% são adquiridos de sócios ou agricultores familiares locais,
chegando a 10 tipos de alimentos diferentes: alface, repolho, rúcula, cenoura,
mandioca, ovos, carnes bovina, de frango, de pato e
suína. Cumpre esclarecer que as festas 3, 8, 11, 12 e 18 (Quadro 1) não
adquirem alimentos in natura dos
sócios ou da agricultura familiar local.
Neste
cenário, as festas gastronômicas desempenham um papel importante, pois podem
contribuir com desenvolvimento de algumas estratégias voltadas à promoção da
segurança alimentar e nutricional e do desenvolvimento rural sustentável. Nesse
mesmo sentido, essas festas poderiam começar a disponibilizar bebidas in natura, cuja comercialização de, por exemplo, água saborizada
com frutas e ervas e ainda, suco natural produzido com frutas ou legumes,
conforme a disponibilidade (sazonalidade) na época da festa, evidenciaria um
bom incentivo à alimentação saudável. Além disso, sucos como os de abacaxi, de
cenoura com limão, limonada etc. incluindo as consideradas não convencionais,
como acerola, ameixa, amora, butiá, jaca, pitanga, são também saudáveis e
atrativos. Tais preparações podem se mostrar mais viáveis economicamente para
as associações, para os agricultores fornecedores e para a saúde dos participantes,
visto que as bebidas açucaradas ultraprocessadas são
um dos principais fatores de risco para inúmeras doenças, inclusive no público
infantil.
Em todas as
festas gastronômicas ocorrem sobras após servir todos os participantes, sendo
os alimentos mais comuns: carne, cuca, mandioca e saladas. No entanto, em
nenhuma das festas há desperdício, pois, segundo os entrevistados, as
associações utilizam estratégias como a comercialização a preço de custo ou a
distribuição para os sócios que trabalharam no evento, além de armazenamento
para uso na refeição do dia seguinte, ocasião em que realizam a organização,
limpeza e acerto de contas do evento, ou ainda, as saladas que não estão
próprias para armazenamento e consumo posterior são destinadas para consumo de
animais de criação dos sócios.
No que se
refere às possíveis mudanças ocorridas nas festas ao longo dos anos, os
entrevistados relataram com maior frequência, mudanças nos estatutos –
alteração de nome e configuração jurídica das entidades, ampliação da
capacidade de público, melhoria na infraestrutura da sede da associação,
mudança para pratos personalizados em cada associação, substituindo o
tradicional churrasco que anteriormente era semelhante em todas as festas e
ainda, na forma de assar as carnes, quando teve início o uso das cúpulas,
estufas e fornos em paralelo às churrasqueiras.
Considerações finais
Neste artigo
foram apresentadas as principais características das festas gastronômicas que
ocorrem na zona rural de Marechal Cândido Rondon, no intuito de contribuir para
o registro e reconhecimento destas festas como patrimônio imaterial da cultura
alimentar local, e para reduzir o risco da perda de referenciais importantes
desta cultura alimentar. As festas no
município estudado representam uma mescla de culturas. Esse entrelaçamento
ocorre pelas práticas alimentares que envolvem os conhecimentos trazidos dos
imigrantes descendentes de alemães que passaram a habitar o município e que se
reproduzem fortemente no município, mas também das práticas indígenas e de
descendentes de escravizados africanos que já habitavam a região, o que
representa uma riqueza do território estudado.
No mundo
contemporâneo, observa-se grandes modificações sociais, o que reflete no estilo
de vida das pessoas e dos grupos. Tais transformações têm ocorrido também no
campo alimentar, alterando os modos do saber-fazer e as práticas alimentares
sobretudo, pelo aumento do consumo de alimentos ultraprocessados,
largamente disponíveis no comércio e pelo acesso facilitado aos fast-foods, que já chegam rapidamente às
cidades do interior e ás áreas rurais. Nesse sentido,
há que se considerar o risco de as práticas festivas da gastronomia rural se
tornarem “coisas do passado” e deixarem de ocupar um lugar de importância.
Neste sentido, torna-se ainda mais importante a ideia de tais festividades
atuarem como instrumento de resistência da memória culinária e da valorização
territorial.
Entende-se
que as festas gastronômicas rurais atuam como guardiãs do patrimônio imaterial
da cultura alimentar, contribuindo para a manutenção práticas que possuem
identidade, sentimento de pertencimento e dão sentido à vida coletiva,
oportunizando a transmissão intergeracional do saber-fazer e da transmissão do
conhecimento, sobretudo com o envolvimento dos mais jovens na organização de
tais festas. Nessa lógica, reproduzir aprendizados, ainda que incorporadas à
novas tecnologias; priorizar produtos agrícolas locais; valorizar as receitas
tradicionais registradas ou transmitidas por oralidade, e perpetuar técnicas do
saber-fazer. Tudo isso contribui para a promoção de uma sustentabilidade
territorial rural.
É evidente que as festas
gastronômicas do meio rural têm um cenário favorável para a aquisição de
alimentos de agricultores familiares locais, inclusive como forma de manutenção
da diversidade de alimentos locais, visto que o mercado tradicional de commodities é limitador nesse quesito.
Os processos de
globalização, industrialização e modernização da agricultura alteraram diversos
processos da vida contemporânea, com destaque para os modos de produção e
consumo dos alimentos, mas ao mesmo tempo, torna evidente a necessidade de
valorização da cultura alimentar local, pois o território passa a assumir valor
de referência para as escolhas alimentares, como um ato político que oportuniza
contribuir com o agravamento ou a melhora das condições de desenvolvimento
rural sustentável, promover a soberania e a segurança alimentar e nutricional e
preservar o patrimônio imaterial da cultural alimentar.
Num tempo, como o que
vivenciamos, de avanço sem precedentes das commodities
agrícolas – uma realidade também do Oeste do Paraná, poder contar com
festas gastronômicas no campo organizadas por agricultores familiares e que
valorizam a produção e os modos de viver do território desses sujeitos é um
alento.
É importante
refletir que, apesar de algumas modificações e adaptações, ao longo dos anos,
as festas estudadas continuam sendo reproduzidas, bem como os pratos
considerados típicos, ainda que com algumas alterações dos ingredientes. Se não
é o melhor que se tem em termos de nutrição e do aproveitamento dos produtos da
agricultura familiar local, elas ainda permanecem como categoria de festas
tradicionais.
Referências
Amaral, Rita de Cassia
de Mello Peixoto. 1998. “Festa ‘à brasileira’: sentidos do festejar no país que
“não é sério”. Tese de doutorado em Antropologia Social, Universidade de São
Paulo. https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-21102004-134208/pt-br.php
Bauman, Zygmunt.
1998. O Mal-Estar da Pós-Modernidade.
Rio de Janeiro: Zahar.
Bessière, Jacinthe.
1998. “Local Development and Heritage: traditional food and cuisine as
tourist attractions in rural areas”. Sociologia Ruralis 38,1: 21-34. https://doi.org/10.1111/1467-9523.00061
Bortnowska, Katarzyna,
Alberton, Anete e Marinho, Sidnei Vieira. 2012.
“Cultura e Alimentação: análise das Festas Gastronômicas na Serra Gaúcha”. Rosa
dos Ventos 4(III): 369-383.
http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/rosadosventos/article/view/1673
Caetano, Adriano Luna de
Oliveira, Diego de Souza Limas, Josiely Koerich e Mayara Cristina Capistrano. 2012. “História posta
à mesa”. Revista Santa Catarina em História 6, 1: 37-53. https://nexos.ufsc.br/index.php/sceh/article/view/536/225
Cascudo, Luís da Câmara. 2004. História da alimentação no Brasil. São
Paulo: Global
___________________ 2002. Dicionário do Folclore Brasileiro. São
Paulo: Global.
Contreras, Jesús
e Mabel Gracia. 2011. Alimentação,
Sociedade e cultura. Rio de Janeiro: Fiocruz.
Dorneles,
Edson Bertin. 2001. “Gramado: a
produção e consumo de uma imagem de cidade europeia no sul do Brasil”.
Dissertação de mestrado em Antropologia, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. https://lume.ufrgs.br/handle/10183/1514
Ewbank, Thomas. 1976. Vida no Brasil. São Paulo: Ed. da USP.
Flandrin, Jean-Louis e Massimo Montanari
(Org.) 1998. História
da alimentação.
Traduzido por Luciano Vieira Machado e Guilherme João de Freitas Teixeira. São Paulo: Estação Liberdade.
Fischler, Claude. 1995. El (h)omnívoro - El gusto, la cocina y el cuerpo.
Traducido por Mario Merlino. Barcelona: Anagrama. El
(h)omnívoro (El gusto, la cocina y el cuerpo) - Fischler, Claude -
978-84-339-1398-2 - Editorial Anagrama (anagrama-ed.es).
García, L. Jacinto. 2013. Una historia comestible:
homínidos, cocina, cultura y ecologia. Gijón: Trea.
Giard, Luce.
2012. “Cozinhar”. In: A invenção do cotidiano II: morar, cozinhar, compilado
por Michel de Certeau, Luce
Giard e Pierre Mayol,
210-331. Petrópolis: Vozes
Giddens,
Anthony. 2012. “A vida em uma sociedade pós-tradicional”. In: Modernização
reflexiva: política, tradição, e estática na ordem social moderna, compilado
por Anthony Giddens, Scott Lash e Ulrich Beck.
Traduzido por Magda Lopes. 89-166. São Paulo: Ed. da UNESP.
Gil, Antônio Carlos.
2010. Como elaborar projetos de pesquisa.
São Paulo: Atlas.
Goergen Pedro L. 2000.
“Competências docentes na educação do futuro: anotações sobre a formação de
professores”. Nuances, 6 (6): 1-9 https://doi.org/10.14572/nuances.v6i6.88
Hahn,
Enri. R, Meghan Gillogly e Bailey BRADFORD. 2021.
“Children are unsuspecting meat eaters: An opportunity to address climate
change”. Journal of Environmental Psychology 78 -101705: 1-9. https://doi.org/10.1016/j.jenvp.2021.101705
Hall,
Stuart. 2000.
“Quem precisa de identidade?” In: Identidade e diferença: a perspectiva dos
estudos culturais, compilado e traduzido por Tomaz T. Silva, 103-133. Petrópolis: Vozes.
Harris, Marvin. 2011. Bueno para comer. Traducido
por: Joaquín Calvo Basarán y Gonzalo Gil Catalina. Madrid:
Alianza Editorial.
Hernández, Jesús Contreras.
2005. “Patrimônio e globalização: o caso das culturas alimentares”. In: Antropologia e Nutrição: um
diálogo possível, compilado por Ana
Maria Canesqui e Rosa Wanda Diez
Garcia. 129-146. Rio de Janeiro:
Fiocruz.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2019. Pesquisa de
Orçamentos Familiares 2017-2018: Primeiros Resultados. Coordenação de Trabalho
e Rendimento. Rio de Janeiro: IBGE. Acesso em 01 de setembro de 2019. liv101670.pdf (ibge.gov.br)
__________________________________________________.
Cidades: Marechal Cândido Rondon. Acesso
em 01 de setembro de 2019. https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pr/marechal-candido-rondon/panorama
Lima, Romilda de Souza Lima.
2015. “Práticas alimentares e sociabilidades em famílias rurais da zona da mata
mineira: mudanças e permanências”. Tese de doutorado em Extensão Rural,
Universidade Federal de Viçosa. https://www.locus.ufv.br/bitstream/123456789/7300/1/texto%20completo.pdf
Lody,
Raul. 2008. Brasil bom de boca: temas da
antropologia da alimentação.
São Paulo: SENAC.
Martins, Ana Paula Bortoletto,
Renata Bertazzi Levy, Rafael Moreira Claro, Jean Claude Moubarac e Carlos Augusto Monteiro. 2013. “Participação crescente de produtos ultraprocessados
na dieta brasileira (1987-2009)”. Revista de Saúde Pública, 47(4):656-665. https://10.1590/S0034-8910.201304700496
Mauss, Marcel. 2003. “Ensaio sobre a dádiva: forma e razão da troca nas sociedades arcaicas”. In: Marcel Mauss. Sociologia e antropologia. 281-314.São Paulo: Cosac-Naify.
Menasche, Renata, Marcelo
Alvarez e Janine Collaço (Org). 2012. Dimensões
socioculturais da alimentação: diálogos latino-americanos. Porto Alegre:
Editora da UFRGS.
Mintz,
Sidney W. 2001. “Comida e antropologia: uma breve revisão”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 16,
47:31-41. •https://doi.org/10.1590/S0102-69092001000300002
Pinto,
Henrique Sales e Rafael Augusto Simões. 2016. “Cultura Alimentar como
Patrimônio Imaterial da Humanidade: desafios e oportunidades para a gastronomia
brasileira”. Núcleo de Estudos e Pesquisas/CONLEG/Senado, abril. Texto para
Discussão 195. Acesso em 4 de abril de 2018. www.senado.leg.br/estudo
Ploeg, Jan Douwe Van Der. 2008. Camponeses
e impérios alimentares: lutas por autonomia e sustentabilidade na era da
globalização. Traduzido por Rita Pereira. Porto Alegre: Editora da UFRGS.
Poulain, Jean-Pierre. 2001. “Les modèles
alimentaires”. In: Manger aujourd’hui: attitudes, normes et pratiques, escrito por Jean-Pierre Poulain. 23-38. Paris: Privat. Acesso em 05 de junho de 2018. https://www.anisetoile.org/IMG/pdf/03_Chapitre1_01_Poulain.pdf
_________________.
2013. Sociologias da alimentação: os comedores e o espaço social
alimentar. Traduzido por Rossana Pacheco da Costa
Proença, Carmen Silvia Rial e Jaimir Conte.
Florianópolis: Editora da UFSC.
Poulain, Jean-Pierre e Rossana
Pacheco da Costa Proença. 2003. “O espaço social alimentar: um instrumento para o
estudo dos modelos alimentares”. Revista Nutrição, 16(3):245-256. https://doi.org/10.1590/S1415-52732003000300002
Richardson, Roberto
Jarry. 2012. Pesquisa
social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas.
Saquet, Marcos Aurélio. 2017.
“Território, cooperação e desenvolvimento territorial: contribuições para
interpretar a América Latina”. In: Processos de cooperação e solidariedade na
América Latina, compilado por Marcos Aurélio Saquet e
Adilson Alves. 37-67. Rio de Janeiro: Consequência.
Saquet, Marcos Aurélio e
Eliseu Sposito. 2008. “Território, Territorialidade e
Desenvolvimento: diferentes perspectivas no nível internacional e no Brasil”.
In: Desenvolvimento territorial e agroecologia, compilado por Luciano Pessôa Candiotto, Adilson Alves e
Beatriz Carrijo. 15-31. São Paulo: Expressão Popular.
Silva, Daniel Antonio
Coelho. 2017. “A Manutenção e a
Reconfiguração dos Hábitos como Fonte de Idenitdade
Cultural: O Caso dos Migrantes Maranhenses em São Gotardo-MG”. Revista
Brasileira de Educação e Cultura, 15: 60-70.
Teleginski, Neli Maria. 2016.
“Sensibilidades na cozinha: a transmissão das tradições alimentares entre
descendentes de imigrantes poloneses no centro-sul do Paraná, século XX”. Tese
de doutorado em História,
Universidade Federal do Paraná. Acesso
em 20 de abril de 2018. https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/46075
UNESCO
– United
Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. 2010. Basic Texts of the 2003 convention for the
safeguarding of the intangible cultural heritage. Paris. Acesso em 25 de
junho de 2019. https://ich.unesco.org/doc/src/2003_Convention_Basic_Texts-_2016_version-EN.pdf.
Wrangham, Richard. 2010. Pegando fogo: porque cozinhar nos tornou
humanos. Traduzido por Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar.
Yin, Robert K. 2001. Estudo de caso: planejamento e métodos.
Traduzido por Daniel Grassi. Porto Alegre: Bookman.
Notas
[i] Mais
informações, acessar: https://www.asbran.org.br/noticias/fbssan-lanca-campanha-comida-e-patrimonio#:~:text=A%20campanha%20Comida%20%C3%A9%20Patrim%C3%B4nio%20pretende%20estimular%20a%20reflex%C3%A3o%20entre,.fbssan.org.br.
[ii] Massa levedada com fermento de pão, seguida de uma segunda camada doce (frutas
ou creme ou requeijão ou chocolate ou mistura destes sabores), finalizada por
uma farofa (farinha de trigo, açúcar e manteiga).
[iii] Consiste em um pedaço de carne localizada entre a costela e a pele do boi, uma peça comprida e fina, muito consumido em churrascos e ocasiões festivas do Sul do Brasil, mais comum de ser preparada como um bolo ou rocambole, geralmente recheado. Etimologicamente a palavra é a contração de "mata el hambre”(matar a fome), já que é um consumo herdado pelos gaúchos do sul do Brasil, dos povos paraguaios, argentinos e uruguaios. Cascudo (2002, p. 373) apresenta uma definição para o termo “mata-fome” como sendo bolo ordinário, pequeno, em forma de disco.